O Governo do Estado da Bahia apresenta o site Linguagem do cinema, que disponibiliza o acervo de filmes, séries e programas de TV dirigidos por Geraldo Sarno e de documentação sobre eles, reunidos pelo cineasta ao longo de sua trajetória. Com curadoria de Sarno, tal acervo se estende de Viramundo (1964/1965) a Sertânia (2019). Além da preservação e difusão digital do acervo de Sarno, o site Linguagem do cinema é um meio para debater e refletir sobre o audiovisual e seu impacto contemporâneo.
Nascido em Poções, Bahia, em 6 de março de 1938, Fidelis Geraldo Sarno iniciou sua trajetória como cineasta em 1964, ao dirigir Viramundo. Em 1966, criou o projeto de uma Enciclopédia Audiovisual da Cultura Popular, inicialmente proposto ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP). A ideia era produzir uma série de dez curtas-metragens documentais e didáticos sobre atividades e expressões da cultura popular no sertão do Nordeste brasileiro, como depois foram realizados, nos anos 1960 e 1970, os filmes Dramática popular, Vitalino/Lampião, Os imaginários, Jornal do sertão, A cantoria, Casa de farinha, O engenho, Região Cariri, Padre Cícero e Segunda feira, entre outros.
A partir dos filmes e do pensamento de cineastas como Sergei Eisenstein e Dziga Vertov, Sarno desenvolveu processos reflexivos e criativos focados na relação entre imagem e linguagem audiovisual, bem como na fronteira entre ficção e documentário. Neste sentido, destacam-se quatro longas-metragens em sua filmografia: Coronel Delmiro Gouveia (1977), Tudo isto me parece um sonho (2008), O último romance de Balzac (2010) e Sertânia (2019). São filmes que incluem trechos de fabulação e indicam o desenvolvimento renovado e evolutivo de uma relação criativa entre a ficção e o documental. Coronel Delmiro Gouveia é uma ficção que inicia com um plano documental, termina com um depoimento ficcional que replica esse primeiro plano e é estruturado em quatro narrações de quatro personagens distintos. Tudo isto me parece um sonho discute o processo de criação do próprio filme, realizando-se com duas câmeras, que ora filmam o tema do longa-metragem, ora documentam o modo de filmá-lo, assim como documentam a fabulação encenada pelo ator Wilson Mello, que interpreta texto confessional do general Abreu e Lima. O último romance de Balzac é uma articulação de três entrevistas documentais e um trecho de ficção em forma de cinema silencioso. Sertânia é uma ficção narrada pela mente delirante de um jagunço febril, ferido de morte, que é quebrada, mais de uma vez, por planos documentais, que introduzem não apenas o próprio processo de filmagem como também se apropriam da técnica de filmagem documental em sequências de ficção.
O trabalho de Sarno vincula a prática cinematográfica à reflexão sobre a linguagem do cinema, cuja importância decorre do modo como filmes podem expressar pensamentos. Tal reflexão levou o cineasta a conceber e dirigir a série A linguagem do cinema, que reúne, em duas temporadas (Série I, 1998/2001; Série II, 2016), entrevistas com 22 cineastas brasileiros que pensam sobre seus processos de criação cinematográfica. Pensar a linguagem do cinema é um dos objetivos deste site, que está dividido nas seguintes seções:
- MEMÓRIA: reúne e disponibiliza o acervo de filmes, séries e programas de TV dirigidos por Sarno, além de documentação que detalha o processo de criação do cineasta, como esboços de argumentos, anotações, roteiros, planos de filmagem, textos jornalísticos e informações sobre a participação dos filmes em festivais e mostras no Brasil e em outros países.
- FORMAÇÃO: reúne e disponibiliza documentários sobre o trabalho de Sarno no cinema, bem como cursos, debates, entrevistas e conferências sobre a filmografia do cineasta e reflexões acerca de linguagem audiovisual.
- ESTUDOS: reúne informações sobre livros e textos escritos por Geraldo Sarno, bem como artigos, dissertações, teses e livros sobre filmes dirigidos pelo cineasta.
- DESTAQUES: evidencia alguns momentos da trajetória de Sarno, como o lançamento de Sertânia em festivais e salas de cinema; a premiação de Coronel Delmiro Gouveia no 1º Festival Internacional do Novo Cinema Latino-americano, em Havana, Cuba, em 1979; o Grande Prêmio concedido a Viramundo em 1966 na Semana Internacional do Filme 16 mm, em Évian, França, pelo júri presidido pelo cineasta holandês Joris Ivens.
Este site foi contemplado pelo Edital Setorial do Audiovisual 2019 e tem o apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura, da Secretaria da Fazenda, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) e da Secretaria de Cultura da Bahia. Agradecemos também à Secretaria do Audiovisual, ligada ao Ministério do Turismo; ao Centro Técnico Audiovisual (CTAv); ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP); à família Thomaz Farkas; à Embrafilme; à RioFilme; à Rede Globo; à Truq Cine TV Vídeo; à Bananeira Filmes; à Cariri Filmes; à Saruê Filmes e à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Vitória da Conquista, por meio do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS), do Curso de Graduação em Cinema e Audiovisual e do Programa de Extensão Janela Indiscreta Cinema e Audiovisual.